AGROBIODIVERSIDADE NAS ROÇAS DA COMUNIDADE INDÍGENA FEIJOAL, MUNICÍPIO DE BENJAMIN CONSTANT – AM: DO PLANTIO TRADICIONAL À PRODUÇÃO ARTESANAL DE FARINHA

AGROBIODIVERSIDADE NAS ROÇAS DA COMUNIDADE INDÍGENA FEIJOAL, MUNICÍPIO DE BENJAMIN CONSTANT – AM: DO PLANTIO TRADICIONAL À PRODUÇÃO ARTESANAL DE FARINHA

CAMINHOS METODOLÓGICOS

Esta pesquisa foi realizada na Aldeia de Feijoal – (Dau’cthitapee), e é conhecida pelos moradores locais como “Ponta da Terra Firme”. Esta localidade pertence ao município de Benjamin Constant, Amazonas com distância de 1.116 km da capital do Estado do Amazonas, Manaus (Figura 1). Segundo informações locais a população é de cerca de 4500 pessoas.

 

Figura 1. Vista Frontal da entrada Aldeia de Feijoal – (Dau’cthitapee), município de Benjamin Constant, AM. 2023.

Fonte: Banco de Imagens PRODESAS.

A metodologia desta pesquisa foi se ajustando ao longo do processo de coleta de dados como uma busca de conhecimento, também procurou se chegar ao esclarecimento de dúvida, solução de problemas e foi construída conforme os tropeços, as orientações, as visitas e pelo próprio modo de inter-relação que foi estabelecendo com os moradores locais. Nesse viés Gatti (2010, p. 63) afirma em seu livro que “o método não é um roteiro fixo, é uma referência. Ele, de fato, é construído na prática, no exercício do “fazer a pesquisa”. O método neste sentido está sempre em construção”.

Assim, Cassab (2007, p. 57) nos mostra que podemos enquanto pesquisadores romper com determinados padrões de pesquisas e ao mesmo tempo propor investigações que tragam as condições reais de vida dos indivíduos de determinada localidade, considerando seu modo de viver, hábitos, tradições, relações econômicas e culturais, suas lutas diárias, bem como os aspectos políticos nessa construção humana e social.

A pesquisa foi realizada com os agricultores maiores de 18 anos e que se dispuseram a colaborar voluntariamente com o trabalho e todo o procedimento foi autorizado pelas pessoas. Para o alcance dos objetivos foi realizada:

  1. Pesquisa bibliográfica desenvolvida a partir de material já elaborado, constituído principalmente de livros e artigos científicos (GIL, 1999).
  2. Pesquisa de campo na Aldeia com o intuito de coletar dados por meio de duas visitas.

Na primeira visita peguei uma passagem da cidade Benjamin Constant para a Aldeia com um morador em uma canoa sem cobertura, com motor pequi-pequi 13hp. Primeiramente foi procurado o cacique de Feijoal para autorização da pesquisa. A segunda atividade foi realizada conjuntamente com a equipe do Programa de Desenvolvimento, Sustentabilidade e Assessoramento no Alto Solimões (PRODESAS), em parceria com a Fundação Nacional do Índio (FUNAI) e o Instituto de Desenvolvimento Agropecuário e Florestal Sustentável do Estado do Amazonas (IDAM), a fim de ajudar na coleta de dados. Nesse sentido, foi formado dois grupos para facilitar a coleta de dados. A viagem foi realizada em um total de 10 pessoas em uma voadeira, denominada localmente como balieira, com motor 115 HP, em um percurso de 1h05min até o porto da aldeia.

Na pesquisa de campo foram feitas observações - sobre as variedades de mandioca, macaxeira, trajeto das roças e processo de se fazer farinha e os materiais que são utilizados; registros fotográficos - das roças, dos agricultores e suas plantações; gravador de voz – realizado pelo celular para registrar a fala dos entrevistados, sobre o que plantam, quando plantam e como plantam, as conversas foram, também, para obter informações dos agricultores sobre suas roças, plantação de mandioca, produção de farinha nas casas de farinha, estrutura da casa de farinha. Durante a observação, também, foram registrados as casas de farinha por meio do uso de GPS.

 

Um adendo sobre a pesquisa de campo

É necessário registrar o desafio de realizar uma pesquisa em área de tríplice fronteira amazônica (Brasil, Peru e Colômbia), não somente pelas questões ambientais impostas em um período chuvoso, que traz um sinal de alerta para os perigos em atravessar o rio. Neste dia, amanheceu chovendo intensamente, o que é denominado localmente como chuva branca[1], isso atrasou nossa viagem em pelo menos 1h30min. Outro desafio, está ligado ao alto custo para chegar em uma localidade, mesmo sendo no município, para tanto, foi necessário 120L de combustível (gasolina), com custo atual de R$ 6,97/litro, o custo total de combustível foi de R$ 836,40.

Atualmente, o Instituto de Natureza e Cultura não conta com nenhum transporte, seja ele terrestre ou fluvial, também, não temos motorista fluvial e por ser início do ano, não tínhamos combustível no fornecedor. Como fazer uma pesquisa nestas condições?

Começamos por identificar quem tem voadeira para emprestar, em seguida, mapear os projetos e conversar com coordenadores que possuem cota de combustível e terceiro alinhar todos os parceiros para realizar uma ida a campo. Não temos resposta para a pergunta acima, contudo, é necessário muito boa vontade e articulação para sairmos da sede do município para realizar pesquisa na região. Assim, tivemos a colaboração do Parque Científico e Tecnológico do Alto Solimões – PACTAS, por meio da liberação do combustível que permitiu a realização de uma das atividades de campo na Aldeia de Feijoal.

Além do caminho percorrido para chegar até ao local de pesquisa, há outros desafios até chegar as roças... A Figura 2 dará uma pista do caminho até as roças. Da necessidade de força física, equilíbrio e resistência para manter a agrobiodiversidade nesta região da Amazônia.

 

[1] Chuva branca: A chuva branca é quando impede de trabalhar porque não tem hora para parar de chover, o tempo está todo fechado, não aparece a cor do céu, somente as nuvens.

Figura 2. Deslocamento da equipe até a área de roça do Seu Cristóvão. Aldeia de Feijoal – (Dau’cthitapee), município de Benjamin Constant, AM. 2023.

Fonte: Banco de Imagens PRODESAS.

Agradecemos a colaboração do Parque Científico e Tecnológico do Alto Solimões – PACTAS que permitiu o deslocamento da equipe da sede de Benjamin Constant até a Comunidade Indígena Feijoal para realização da coleta de dados do Trabalho de Conclusão de Curso de título “Agrobiodiversidade nas Roças da Comunidade Indígena Feijoal, Município de Benjamin Constant – AM: do plantio tradicional à produção artesanal de farinha” do estudante do Curso de Ciências Agrárias e do Ambiente, orientado pela Profa. Antonia Ivanilce Castro da Silva